quarta-feira, 17 de julho de 2013

Os Cinemas de Montijo

O Grande Cinema Independente


Frederico Guilherme da Costa
No dealbar de 1920, o cinema popularizava-se e o proprietário do elegante Salão Recreio Popular continuava a deliciar as plateias com a apresentação de belas fitas cinematográficas. No entanto, lamentava-se que «se não ponha cobro ao constante estalar das rolhas das gasosas que incomodam os espectadores e não seja proibido o uso de vinho durante o espectáculo, dando assim aquele conjunto o aspecto duma taberna ao salão que não se fez decerto para isso.»
Na sessão ordinária realizada no dia 4 de Fevereiro de 1920, a Câmara Municipal de Aldegalega deliberou «deferir o requerimento de J.A. Pires para a instalação de uma barraca desmontável para animatógrafo e teatro, no espaço compreendido entre o edifício do Tribunal e o Cais das Faluas, ficando entre a barraca e o referido edifício do Tribunal uma rua de seis metros de largura e pagando o proprietário da barraca a taxa mensal de cinco escudos pela ocupação do terreno.»
A edilidade acedia, assim, à pretensão de João Antunes Pires que requerera autorização para construir uma nova sala de espectáculos, no Largo Gomes Freire de Andrade, e um cinema ao ar livre, o Cinema Central, na Rua Bolhão Pato, (ex-Rua Teófilo Braga).
Um ano volvido sobre o deferimento camarário, em Março de 1921, João Antunes da Silva vendeu as duas salas de espectáculo à Empresa Relógio & Ribeiro, constituída pelos aldeanos Avelino de Jesus Relógio e Frederico Guilherme da Costa.
A nova empresa iniciou sua actividade, no dia 2 de Outubro de 1921, tendo obtido grande assistência em todos os espectáculos, «devido aos escolhidos programas cinematográficos que capricha apresentar ao público frequentador.»
Ao terminar a época de Inverno, a empresa exploradora requereu autorização à Câmara Municipal de Aldegalega para proceder à ampliação da barraca até à esquina do tribunal, bem como em ocasião oportuna a construção de uma marquise, porque o espaço ocupado pelo cinema era insuficiente para as exigências e comodidades do público.
O pedido foi deferido e depois de concluídas as obras de ampliação à barraca foi dado o nome de “Grande Cinema Independente”, que se inaugurou no dia 2 de Outubro de 1922, com a projecção da «película Por Amor, onde a eminente actriz Pérola Branca tem um trabalho violentíssimo que faz emocionar todas as plateias onde tem sido exibida.»
O “Grande Cinema Independente”, cuja autorização de cedência terminaria em 1925, apresentava «um record de brilhantes espectáculos, tanto cinematográficos, como de opereta, embora o nosso público não tenha correspondido à boa vontade da empresa». Porém, «depois de tão belos espectáculos até hoje apresentados, e ainda no último domingo com o Pobre Miudinho, já para o próximo dia 1º de Maio, feriado Municipal, a Empresa contratou um dos melhores filmes em séries que ultimamente no Salão Central se exibiu, O Atleta Invencível, que grandes enchentes àquele Salão levou, o qual fechará a época de Inverno. O Atleta Invisível, pelo artista mais popular do mundo, Eddie Pólo, que se divide em 18 séries e 36 partes, exibindo-se naquele dia as três primeiras séries intituladas: 1ª «Dinheiro Ensanguentado», 2ª «O Desconhecido», 3ª «Arma Acusadora.» Por noite exibiam-se três séries e durante seis sessões apresentava-se o filme.
Os espectáculos cinematográficos tinham recebido, desde Fevereiro de 1925, regulamentação específica. As empresas ficavam obrigadas a comunicar, com a antecedência de 24 horas, os títulos e os assuntos das películas novas e o dia em que seriam apresentadas ao público, a fim de se poder verificar se as explicações dessas fitas estavam escritas em corrente linguagem portuguesa, ou se, pelo assunto nelas tratado, constituíam motivo para serem retiradas por atentarem contra a moral social, incitarem ao crime ou serem perniciosas para a educação do povo. Nos espectáculos cinematográficos, era proibida a entrada de menores de 12 anos, quando desacompanhados dos pais, tutores, professores ou pessoa responsável pela sua guarda, salvo em sessões diurnas exclusivamente dedicadas a crianças, com a exibição de películas instrutivas.
O Grande Cinema Independente continuava a receber no seu palco companhias de teatro e de opereta.
(cont.)

Ruky Luky


Um comentário:

  1. Lembro-me perfeitamente das manas Fredericas umas senhoras adoráveis eu passava as tardes em frente à Papelaria Frederico, na loja da minha tia (início dos anos 80). E estou a achar o artigo interessantíssimo, fico a aguardar com expectativa a continuação :).

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