domingo, 16 de setembro de 2012

A Santa Casa da Misericórdia de Montijo

Os Primeiros Tempos

A Igreja da Misericórdia e, adossada, a Santa Casa da Misericórdia, no Largo da Misericórdia [hoje, 1.º de Maio]. No lado esquerdo da fotografia, é  visível o primeiro poço de abastecimento da vila. Este poço aparece já referido no Título das Propriedades Pertencentes à Câmara de Aldeia-Galega mandado fazer por D. Manuel, em 1498, nos seguintes termos: «Ho ditto concelho há na ditta villa hu poço de que bebe todo o povo, que esta no cabo do lugar em querendo ir para Alcouchete».

O Tombo do Hospital, Albergaria e Capela de Aldeia Galega do Ribatejo, datado de 1489, contém referências ao «provedor do hospital, capela e albergaria, provando a existência daquela instituição anteriormente à data do referido documento.

 Não se conhece data da fundação da Albergaria, mas tem-se por adquirido que foi desta antiquíssima instituição da Confraria do Divino Espírito Santo que, natural e gradualmente, evoluiu a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Aldegalega [Montijo, a partir de 1930], que se tornou a legítima herdeira do seu rico património espiritual e matéria.

Não é possível precisar a data da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Aldegalega do Ribatejo.

O padre António de Carvalho diz, na sua “Corografia Portuguesa”, de 1709, que a «Igreja da Misericórdia se fundou no ano de 1553”, presumindo-se então que a existência da Irmandade é anterior àquela data.

O Padre Luís Cardoso, no “Dicionário Geográfico”, de 1745, toma aquela data como a da fundação da instituição, e o mesmo aconteceu, em 1904, com Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, em “Portugal – Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico”.

A “Relação das Irmandades e Confrarias Existentes no Concelho de Aldegalega do Ribatejo”, de 1841, regista o ano de 1512 como tendo sido a data da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Aldeia Galega do Ribatejo, mas a Provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Aldeia Galega do Ribatejo, na resposta ao questionário formulado pela Administração do Concelho, de 22 de Maio de 1885, indica o ano de 1520 como o da fundação da Confraria.

A evolução da Albergaria para a nova Irmandade, cujos princípios se confundem, não preocupou os irmãos da Misericórdia que, mais ocupados em fazerem o bem e a salvarem as almas, se limitaram a «guardar compromisso tirado pelo da Confraria da Misericórdia de Lisboa, cabeça que emanam todas as demais casas da Confraria de Misericórdia deste Reino de Portugal», apenas em 1589, que obteve confirmação real em 1625.

Embora tivesse começado as obras de edificação do seu templo alguns anos antes, a Irmandade recebeu carta régia de D. Sebastião, de 17 de Julho de 1571, que a autorizava a construir a igreja. Em 1591, estava concluída a construção do novo hospital.

A edificação da Igreja, do Hospital e a doação da Bandeira da Irmandade ficou a dever-se ao empenho, dedicação e benemerência de D. Nuno Álvares Pereira, António Gama Lobo e D.ª Antónia da Silva, provedores, e de Isabel de Almeida, esposa de D. Nuno Álvares Pereira.

A confraria era administrada pelo Provedor, «homem fidalgo, honrado, de autoridade, virtuoso, de boa fama e humilde e sofrido pelas desvairadas condições dos pobres», que era assistido pela Mesa constituída por doze irmãos, que entre si repartiam os cargos de escrivão, arrecadador de esmolas, visitadores e mordomos da capela, do hospital, da bolsa e dos presos.

A Irmandade reunia-se em assembleia geral quatro vezes por ano: no dia da Visitação de Nossa Senhora, para eleger o Provedor e a Mesa; no dia de Todos-os-Santos, para acompanhar a procissão que recolhia as ossadas dos que «não estavam em (chão) sagrado»; no dia de S. Martinho, pela missa e pregação e saimento que se fazia por todos os irmãos defuntos; e na quinta-feira de Endoenças, para a procissão dos penitentes.

O Provedor e os Irmãos deviam promover a amizade entre as pessoas desavindas, principalmente nos dias de Quaresma por serem de penitência, além de serem obrigados a cumprirem as obras de misericórdia [Corporais - Dar de comer a quem tem fome, Dar de beber a quem tem sede, Vestir os nus, Acolher os errantes, Visitar os doentes, Libertar os prisioneiros e Sepultar os mortos; Espirituais - Dar bom conselho a quem pede; Ensinar os ignorantes; Corrigir os que erram; Consolar os que estão tristes; Perdoar as injúrias; Suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo; Rogar a Deus pelos vivos e pelos defuntos].

 A admissão da Irmandade estava reservada aos cristãos-velhos, casados ou solteiros com mais de quarenta nos, que fossem de «boa fama, sã consciência, honesta vida, tementes a Deus e guardadores dos seus mandamentos, mansos e humildes e limpos de sangue, sem alguma raça de mouro ou de judeu e que soubessem ler e escrever».

Assim era a Santa Casa da Misericórdia de Aldeia Galega do Ribatejo [Montijo], nos primeiros séculos da sua existência.

 
Ruky Luky

 

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. É uma maravilha que haja quem se incomode ou tenha o prazer de retirar da poeira dos tempos todas estas memórias que são as raízes dum povo. Infelizmente vivemos um período, fruto do desrespeito pelo passado, em que só interessa o presente colmatado de diversos egoísmos. São fases que sempre foram ultrapassadas e que são naturais e necessárias para um confronto de ideias que acaba sempre por, mais cedo ou mais tarde, dar a vitória ao bom senso e ao progresso.

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